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A tropa do bicho: nova cúpula da contravenção tem mais de 70 PMs como 'guarda-costas'

 

Vinicius Drumond: vítima de atentado, tem dois PMs do Bope na sua escolta; Rogério Andrade: Preso em Campo Grande (MS), conta com 36 policiais; e Adilsinho: Foragido, ele tem em sua equipe pelo menos 34 PMs da ativa — Foto: Montagem

Alvo de um ataque com mais de 30 tiros na Barra da Tijuca no mês passado, o contraventor Vinicius Pereira Drumond só saiu ileso porque o Porsche que dirigia era blindado e sua escolta contava com uma dupla que recebeu treinamento de excelência do governo do estado: dois policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope), a tropa de elite da PM. A nova cúpula da contravenção, formada por Vinicius, Rogério de Andrade e Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho, tem em suas equipes de “guarda-costas” pelo menos 72 PMs da ativa.

O ataque ao herdeiro de Luizinho Drumond escancara como os bicheiros se valem cada vez mais da mão de obra de forças de segurança. O número de 72 policiais militares na tropa do bicho foi identificado pelo jornal O Globo em processos criminais envolvendo o trio em trâmites no Judiciário fluminense — sem contar os que correm em segredo de justiça. O cálculo não inclui bombeiros e policiais civis e penais, tampouco ex-agentes ou homens da reserva. Um exemplo é a segurança de Rogério, chefiada por Márcio Araújo, sargento reformado, segundo o Ministério Público do Rio (MPRJ).

Vinicius, que só recentemente passou a ser alvo de investigações, integra a nova cúpula ao lado do veterano Rogério e de Adilsinho. Embora Rogério esteja à frente do jogo do bicho, das máquinas caça-níqueis e dos bingos há 28 anos, o número de PMs da ativa ligados a ele é praticamente o mesmo de Adilsinho: 36 contra 34, respectivamente. Esse efetivo, contudo, pode ser ainda maior, já que muitos não chegam a ser identificados nas apurações. Grande parte dos que aparecem nos processos foi descoberta pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ) durante investigações de assassinatos na disputa por poder na contravenção.

Esses policiais atuam em diferentes frentes da engrenagem criminosa. Prestam de segurança pessoal a bicheiros e seus parentes a gerenciamento de negócios ilegais e execução de inimigos. Há também aqueles que acumulam a função com o comando de milícias em favelas.

O atentado a Vinicius, na Avenida das Américas, expôs o racha da nova cúpula. Desde então, cada integrante tem buscado ainda mais proteção dentro de batalhões da PM. A DHC investiga vários agentes, sobretudo do 15º BPM (Caxias), suspeitos de vínculos com Adilsinho. Seus pontos de exploração do jogo — além da venda de cigarros contrabandeados, crime pelo qual também é investigado — ficam justamente na cidade da Baixada Fluminense.

Um dos presos pelo ataque a Vinicius é o policial Luiz César da Cunha, do 15º BPM. Além dele, foram detidos o ex-PM Deivyd Bruno Nogueira Vieira, o Piloto — flagrado por câmeras na véspera do crime num shopping da Barra, onde funcionava a academia frequentada pela vítima —, e Adriano Carvalho. Outros dois, Rafael Ferreira, o Cachoeira, e Jorge Affonso Marins de Assis, continuam foragidos.

Com Rogério preso na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS) — acusado de mandar matar o contraventor Fernando Iggnácio, em 2020, em ataque que teria envolvido cinco PMs —, Adilsinho e Vinicius romperam a aliança. Rogério era uma espécie de fiel da balança do grupo. Agora, uma nova guerra se desenha no submundo da contravenção. Além do atentado a Vinicius, a DHC investiga ao menos dois assassinatos recentes relacionados à disputa.

O primeiro foi o de Manuel Agostinho Rodrigues de Miranda, de 66 anos, executado em 29 de setembro do ano passado. Conhecido como Agostinho, ele era braço direito de Luizinho Drumond. Após a morte do chefe, em 2020, recusou-se a seguir sob o comando de Vinicius e anunciou que se aposentaria. Segundo as investigações, voltou atrás e passou a trabalhar para Adilsinho. Foi morto em Del Castilho, dentro de seu carro blindado, alvejado com ao menos 38 tiros.

Oito dias depois, o ex-policial militar André da Silva Aleixo foi executado na porta de casa, no Jardim Guanabara, Ilha do Governador. A polícia apura se o crime foi retaliação pela morte de Agostinho, já que Aleixo era suspeito de atuar como segurança de Vinicius.

Outro crime emblemático que revelou o envolvimento de PMs com a contravenção foi o assassinato do advogado Rodrigo Marinho Crespo, executado em frente à sede da OAB-RJ, no Centro, em 26 de fevereiro do ano passado. Segundo a DHC, Rodrigo pretendia abrir sua própria empresa de apostas on-line — as chamadas bets —, segmento que passou a atrair também os bicheiros.

A partir da prisão do PM Leandro Machado da Silva, do 15º BPM, como um dos envolvidos na execução de Rodrigo, a DHC voltou seus olhos para o batalhão da Baixada, área de influência de Adilsinho. O contraventor está foragido e responde a dois processos: um por organização criminosa ligada à venda ilegal de cigarros e outro por homicídio. Vinicius, por sua vez, responde a processo por organização criminosa, acusado de participar do furto de combustível de dutos da Petrobras.

— A investigação de agentes das forças de segurança envolvidos em práticas ilegais é essencial para proteger a integridade da corporação e da sociedade. Sinais de enriquecimento sem justificativa, muitas vezes, indicam o envolvimento com atividades ilícitas, como segurança de contraventores ou atuação como matadores de aluguel — afirmou o coordenador do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp/MPRJ) e subcoordenador do Gaeco, Fabio Corrêa.

A PM informou que policiais envolvidos com organizações criminosas respondem administrativamente por infrações às normas internas e, caso confirmadas as irregularidades, são punidos.

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